Relatoria da ONU afirma que PDL 717 “mina os direitos indígenas” e pede à Câmara Federal que não o aprove 511p3
“Esta é a quarta vez em quatro anos que o Relator Especial sobre os Direitos dos Povos Indígenas alerta a opinião pública sobre esta questão”, disse o relator Albert K. Barume 3z5m13

Albert K. Barume é o Relator Especial da ONU sobre os direitos dos Povos Indígenas. Foto: Media/UN
Um especialista da ONU expressou nesta quarta-feira, 11, preocupação com a aprovação pelo Senado Federal do Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 717/2024 e o uso contínuo da inconstitucional interpretação jurídica do Marco Temporal para revogar o fundamento legal para a demarcação de terras indígenas e anular a homologação das terras Morro dos Cavalos e Toldo Imbú, em Santa Catarina.
“Esta medida legislativa reforça a desacreditada doutrina do ‘Marco Temporal’, que restringe os direitos territoriais indígenas aos territórios física e permanentemente ocupados a partir de 5 de outubro de 1988, data da atual Constituição brasileira”, disse Albert K. Barume, Relator Especial sobre os Direitos dos Povos Indígenas.
O PDL 717 busca revogar o fundamento legal para a demarcação de terras indígenas, o Decreto 1775/96, que estabelece o procedimento istrativo de demarcação. O artigo 2º, alvo central do PDL, é o que tem de mais importante no decreto, no que diz respeito à demarcação. O projeto está agora na Câmara dos Deputados.
“Este é um o profundamente regressivo que mina os direitos dos povos indígenas, a proteção ambiental e a ação climática. Peço aos legisladores que não aprovem o projeto”, disse o especialista.
Barume entende que o decreto proposto ameaça o trabalho da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), que desempenha um papel vital na demarcação de terras indígenas nos termos do Decreto 1775. Associado ao PDL, o relator lembra que o Supremo Tribunal Federal (STF) já declarou a tese do Marco Temporal inconstitucional.
“Esta é a quarta vez em quatro anos que o Relator Especial sobre os Direitos dos Povos Indígenas alerta a opinião pública sobre esta questão”, disse Barume, relembrando declarações emitidas em 2021, 2023 e 2024. “Também foi objeto de comunicações formais com o governo brasileiro e deve ser motivo de grande preocupação para a comunidade internacional”, destaca.
CIDH contra o Marco Temporal
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) também emitiu alertas contra a tese do Marco Temporal, que viola tratados internacionais como a Convenção 169 da OIT e contradiz a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos.
“O Marco Temporal não só mina a segurança jurídica e os direitos territoriais dos povos indígenas, como também alimenta a violência rural e a degradação ambiental”, disse Barume. “Ele ameaça a segurança, a saúde e as práticas culturais dos povos indígenas, contribuindo para um processo lento e doloroso que pode levar ao seu extermínio”, afirma.
“Exorto o Brasil a abandonar o Marco Temporal de uma vez por todas. Como afirmou o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, os direitos dos povos indígenas são inegociáveis”, conclui Barume.